sexta-feira, 25 de março de 2011

Grupo AmigosPsique

Pessoal,


Eu encontrei esse artigo de um livro de Neuropsicologia, que estou lendo. Achei interessante e compartilho com todos!
No artigo “O cérebro, sugestionado, produz seu próprio remédio, numa versão agradável do efeito placebo”, a autora relata um estudo italiano que descobriu que o cérebro é capaz de produzir sua própria morfina que age sobre a representação mental de áreas do corpo que acreditamos que vai sentir dor, ou seja, basta acreditar que não vai doer para que não doa isso se dá pela antecipação de um efeito analgésico levando o cérebro a produzir um opióide semelhante à morfina. Isso nos remete, a nossa cultura, que está cada vez mais voltada para a farmacologia, para tentar livrar o ser humano de qualquer dor, sofrimento e angustia. Quase não se pensa que o nosso organismo tem ferramentas fortíssimas para equilibrar nossos sistemas, para isso basta acreditar no “nosso” potencial. Neste aspecto a psicologia tem grande valor, porque a área tenta efetivar as potencialidades do sujeito e tenta fazer com que ele enxergue outras formas possíveis de solução para um problema.
Ótima leitura.

Gisele
Não dói se achar que não vai doer: o poder analgésico da mente. O cérebro, sugestionado, produz seu próprio remédio, numa versão agradável do “efeito placebo”


Você acredita quando lhe dizem que "não vai doer"? Vários estudos já mostraram que quando você realmente acredita que não vai doer, quase não dói mesmo. Mas um estudo feito recentemente por um grupo italiano indica como seu cérebro se tapeia: produzindo opióides próprios que agem especificamente sobre a representação mental daquela parte do seu corpo que vai sofrer o ataque. Assim, a anestesia "psicológica" é dirigida somente àquela porção do corpo, preservando a sensibilidade das outras.
Fabrizio Benedetti, Claudia Arduino e Martina Amanzio, da Universidade de Torino, contaram com a participação de 173 voluntários no estudo. Todos os voluntários recebiam uma injeção de capsaicina, um dos princípios ativos da pimenta, simultaneamente nas costas das mãos e no dorso dos pés. A injeção de capsaicina provoca uma dor ardente localizada. A cada minuto, os voluntários avaliavam a intensidade da dor em uma escala de 0 (nenhuma dor) a 10 (dor insuportável). Em média, os voluntários avaliaram a dor inicial como 5 ou 6, decaindo gradualmente até desaparecer (dor 0) 15 minutos após a injeção.
Alguns voluntários, no entanto, receberam antes da injeção um creme aplicado a uma das mãos, ou a um dos pés. O creme, apresentado como "um anestésico local poderoso que alivia a ardência da capsaicina", era na verdade um placebo, uma mistura de óleo de tomilho e água, sem ação anestésica própria. Resultado: enquanto a dor inicial percebida nas outras partes do corpo era avaliada em 5-6, a dor inicial na mão ou pé que havia recebido o placebo recebia um mero "3", e desaparecia mais rapidamente, em apenas 10 minutos!! Como explicar tal "poder de sugestão"?
Estudos anteriores haviam mostrado que a antecipação de um efeito analgésico leva à produção de opióides pelo cérebro, que então agem sobre o próprio cérebro diminuindo de fato a sensação de dor. No estudo italiano, o efeito "analgésico" do creme pôde ser anulado por uma injeção prévia de naloxone, que bloqueia a ação de opióides, mostrando que a dor reduzida em decorrência da expectativa era de fato devida à produção de opióides endógenos.
A grande novidade deste estudo é mostrar que o opióide produzido na expectativa da analgesia age somente para a parte do corpo que recebeu o suposto analgésico. Como? A explicação mais simples oferecida pelos pesquisadores é que o opióide produzido não atua no cérebro em geral, mas somente nas regiões do cérebro que representam aquela parte do corpo que é objeto da expectativa.
Em outras palavras: se você acredita piamente que seu dedo mindinho da mão esquerda está anestesiado e não vai sentir dor, seu cérebro produz opióides que agem na representação do seu dedo mindinho da mão esquerda, e só nela, e anestesiam seu mindinho pra você. Mesmo que o "anestésico" que lhe aplicaram no mindinho tenha sido só um placebo.
Dá até pra criar uma frase para essa nova explicação biológica do "poder de sugestão" da mente:
"Me engana, que eu produzo uns opióides e gosto..."
Agosto de 2000
_________

Fonte: Benedetti, F., Arduino, C. e Amanzio, M. “Somatotopic activation of opioid system by target-directed expectations of analgesia”.
Journal of Neuroscience 19, pp. 3639-3648, 1999

2 comentários:

  1. Muito interessante grupo, já havíamos estudado sobre esse assunto em Neuropsicologia, como se dão os efeitos do placebo no cérebro humano e porquê. Serve também para nós pensarmos enquanto futuros psicólogos da importância de estármos ligados a essas questões de: até que ponto um medicamento está realmente ajudando o paciente?
    Grupo Catarsis (Diane, Fabiana, Kenia, Regina, Roberta, Vânia)

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  2. Lembrei do trabalho que fizemos na disciplina de Neuropsicologia, com a Mirelli! O livro é o cérebro nosso de cada dia. Da autora Suzana Herculano não é isso?
    Gosto da ultima frase desse texto, que resume tudo o que ela disse no quanto o ser humano é um ser sugestionável. O que é um tanto perigoso quando olhamos pelo lado de que somos detentores de um saber que faz diagnósticos, que nomeia tipos de estruturas e patologias...
    sabendo disso, precisamos estar sempre atentos.

    Tatiana Parreira – Grupo Arquivo Ψ - “O conhecimento também está lá fora”

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