Reflexões Iniciais acerca da minha formação...
Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.
Clarisse Lispector
Este poema de Clarisse Lispector em sua magnitude, elucida com clareza meu sentimento sobre meu processo inicial de formação. Minha escolha profissional era a de ser artista plástica, para isso fiz um curso de educação artística durante um ano, eu amava arte ( e ainda amo) mas a psicologia me encantava; escutar as pessoas já era um certo tipo de dom, um dom estranho, manso, sem entendimento...
...Resolvi deixar o mundo da arte e rumar para ares mais intrinsecamente ligados á alma, ás emoções, ao ser humano em sua profundidade. Chegando, fiquei ainda mais confusa, a psicologia se apresentou não como “ A psicologia” e sim “ As psicologias” . Mesmo com tantos não entendimentos, algo estava claro, eu amara o que estava fazendo, eu me entreguei e me senti inteira, inteiramente apaixonada por estas psicologias.
Mesmo as grandes paixões nos trazem dor e angústia, e por vezes no curso me senti assim, sobretudo neste momento, quando iniciei minha terapia (análise) e as decisões e mobilizações começam a se configurar. No primeiro período do curso, eu ouvi de uma aluna que estava quase se formando que neste curso vivemos constantemente angustiados, pude comprovar estas palavras dela...
...Sobretudo, me sinto integrada, me sinto parte desse processo e ele já faz parte de mim. .As identificações começam a se configurar e as mobilizações aparecem de forma clara, como minhas tendências as áreas de atuação social, de gênero, saúde mental, as questões epistemológicas da psicologia e especialmente meu amor por pesquisa.
A construção deste espaço de reflexão irá se expandir entre formação, teoria, prática, meio ambiente, pesquisa e arte. Suas páginas são de papel reciclado artesanal e suas formatações transbordam de arte visual e literal. Busco neste espaço, além de relexões sobre a psicologia, fazer reflexões de mim mesma... E quem sabe talvez, entender um pouco mais.
Inquietações, Descobertas, Identificação, Possibilidades,
Implicação!
Descobri a pesquisa no 1º período de Psicologia, com um Projeto sobre o risco do álcool e influência deste nos jovens. (Inquietações);
No 2° período, com a disciplina de estágio supervisionado I, surge a proposta de investigarmos espaços de atuação de psicólogos e a proposta do professor em á partir disso, identificarmos as questões que nos despertaram uma questão de pesquisa nestes espaços. (Descobertas);
No 4° período com o estágio supervisionado III iniciei a construção de um projeto de pesquisa. Escolhi como tema para este projeto de pesquisa Mulheres gestantes em situação de prisão. Eu iniciei uma pesquisa sobre o processo de subjetivação destas mulheres, como elas produzem seu modo de ser e de estar no mundo. (Identificação);
No 5° período com o estágio supervisionado IIII deveríamos colocar este projeto de pesquisa em prática, continuei a investigação. Avançava aí para uma grande inquietação, muitos estudos e descobertas, autores e teorias. Por motivação da supervisora, eu inscreveria este projeto em algum programa de iniciação cientifica.( Possibilidades);
Desta experiência surgiu à possibilidade de atuar como estagiaria bolsista de iniciação cientifica da Puc. Consegui a oportunidade de ser estagiaria de uma professora, doutora em Psicologia Social e bastante engajada nas questões de gênero. Sua pesquisa denominada: Mulheres em situação de prisão: a vida na prisão e perspectivas futuras, procura investigar a situação de vida das mulheres no sistema prisional e como estas mulheres projetam seu futuro. Nossos projetos se interligaram, e avanço investigando processos de subjetivação em ambiente prisional, usando como metodologia grupos focais e entrevistas individuais realizadas em várias penitenciarias. Meu foco institucional principal é no Centro de Referência á Gestante em privação de Liberdade, que recebe gestantes a partir do sétimo mês de gestação e que ficam em convívio com o bebê até os doze meses dele. (Implicação).
Digo: o real não está na saída nem na chegada:
ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.
Guimarães Rosa
Ser pesquisadora é estar em constante travessia!
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