quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Grupo Conexão

Reflexões iniciais sobre minha formação:

Antes de começar a escrever fiquei pensando, como fazer uma reflexão a cerca de minha formação se esta ainda está sendo construída? Então pensei que poderia contar a trajetória de minha formação até os dias de hoje, até onde estou caminhando.

Comecei a refletir que minha formação começou há um bom tempo atrás, lá no pré-escolar ou como chamávamos, no jardim. Foi lá onde eu comecei a aprender a conviver e trabalhar em grupo, a me relacionar e respeitar o outro, a compartilhar materiais, dificuldades, experiências, e a prestar ajuda quando necessário, coisas que ainda hoje carrego comigo. Além disso, fui conhecendo as primeiras letras, palavras e aos poucos formando as primeiras frases. Daí veio à lembrança de quando comecei a ler, todas as palavras, anúncios e cartazes eram vítimas da curiosidade da pequena leitora.

Os livros de histórias coloridos e ilustrados me encantavam, e continuaram a me encantar mesmo quando aos poucos iam perdendo as figuras e aumentando os textos, na medida em que passava pelas séries do Ensino Fundamental e Médio, onde não havia mais figuras coloridas, mas textos difíceis, e menos divertidos do que os das histórias infantis. O encantamento pelos livros e pela leitura ainda permanece, diria que agora em um grau muito maior do que há um tempo atrás.

O tempo passou e lá estava eu, último ano do Ensino Médio, lembro-me com precisão da ansiedade e angústia que me acometiam. E agora? O que fazer? Para onde caminhar? Eram as perguntas que me acompanharam durante aqueles 365 dias de 2007, o último ano de “mochilas” como costumávamos brincar.

A dúvida estava instalada: direito, pedagogia fisioterapia, e por aí vai, de Moçambique a Piauí. E pior que essas dúvidas era pensar como chegar à faculdade? Federal era a única alternativa, não poderia pagar uma Universidade privada, minha realidade e de minha família estava distante disso. Nessas condições o medo aumentava, já que passar na UFMG era extremamente difícil e eu não teria feito nenhuma preparação o quanto deveria para encarar uma prova daquelas.

Eis que surge outra motivação, era o “tal” do ENEM, em que depositei todos os meus esforços, era a chance que eu tinha de ingressar na faculdade. Os meses passaram e a ansiedade tomava conta de mim que esperava aflita o resultado da prova; enfim ela saiu, e através do Prouni, pude entrar pra faculdade.

E aí surge uma outra questão: qual curso escolher? Não tinha algo definido, até que a Psicologia veio à cabeça; me simpatizava pelo curso embora nunca tivesse penando em escolher como profissão. E naquele dia, fiz uma das minhas melhores escolhas de vida, decidi que faria Psicologia.

Tudo isso ainda estava confuso para mim, era tudo bom demais, a alegria era total e a vontade de aproveitar a oportunidade era ainda maior; naquele momento, surgem motivação, determinação, dedicação, empolgação, investimento, vontade, desejo e prazer que me acompanhariam durante toda minha trajetória de formação.

Durante o curso com as disciplinas, palestras, leituras, experiências de estágios, e com meu investimento e sede de conhecer tenho aprendido muito. As possibilidades que a Psicologia oferece me encantam, algumas coisas me mobilizam mais, invisto com mais prazer, como falarei um pouco à frente, mas mesmo aquelas das quais não me agradam muito ainda trazem um aprendizado grande, uma possibilidade a mais.

Algumas vezes parece que não me lembro das coisas aprendidas ao longo do curso, porém chego à conclusão de que o conhecimento que tenho hoje é o resultado, o acúmulo ou contínuo de tudo que tenho visto, lido, ouvido, conhecido, experimentado e vivenciado.

Posso dizer que hoje sou uma pessoa bem diferente daquela de uns anos atrás. Tenho aprendido a compreender, escutar, pesquisar, questionar e a encarar as coisas, os fenômenos e as pessoas de uma forma melhor, mais ampla e com mais humanidade. Minha trajetória tem me ensinado isso.

Tenho descoberto coisas que me mobilizam, me envolvem me encantam e me guiam nessa trajetória. O social faz parte do que sou hoje, da minha visão de mundo, de homem, de meus investimentos pessoais e profissionais. Interferem demasiadamente no que entendo e como entendo os fenômenos psicológicos, os modos de subjetivação, as formas de existir e estar no mundo. Entendendo que não existe “quadro sem moldura” e que o social permeia nossas vidas e relações.

Essa formação tem trazido angústias, inquietações, parece que quanto mais se conhece mais se sofre, já que agora é possível enxergar e pensar em coisas antes não refletidas. Descobre-se que muitas coisas estão de “cabeça para baixo”, fora do lugar, e que algumas vezes somos incapazes de fazer a mudança acontecer. Enxerga-se que a sociedade em que vivemos é injusta e as pessoas não têm as mesmas oportunidades, e que na maioria das vezes, grande parte das pessoas não se importam com isso. Por outro lado, temos cada vez mais instrumentos e bagagem para lutarmos por um mundo melhor, por uma sociedade mais justa, por relações mais saudáveis, por realidades menos difíceis e por pessoas mais humanas. Utopia? Para alguns sim, mas para mim um compromisso da profissão que escolhi, com o saber, com as pessoas e com a realidade social.

Talvez por isso, minha trajetória tem tomado um rumo que me leva a lugares e pessoas “invisíveis”, aquelas que a sociedade não faz questão de ver, nem de apoiar, por naturalizarem as relações e se eximirem da parcela de responsabilidade que têm nesse cenário desigual. Tenho aprendido e experimentado a sentir o mundo e as pessoas, a acreditar em mudanças, em possibilidades, a lidar com frustrações e com sofrimentos, mas não desanimar, tendo a certeza de que as pessoas e a vida são um “vir a ser”, não estão prontas, mas em constante construção e ressignificação.

Tenho pensado muito em minha formação e na profissional que quero ser, e chego à conclusão de que a academia não garante bons profissionais, mas sim o meu investimento com o saber, a forma como encaro o curso e os recursos que busco para aprofundar e ampliar meus conhecimentos. Logo, cada um de nós é responsável pelo que vai ser daqui alguns anos e digo que tenho trilhado um caminho que me leva a esse lugar, entendendo que ao longo dos anos estou me tornando e formando a profissional que quero ser.

E termino com uma frase que resume um pouco a reflexão sobre a trajetória de minha formação:

“A crítica arrancou as flores imaginárias que enfeitavam as cadeias, não para que o homem use as cadeias sem qualquer fantasia ou consolação, mas para que se liberte das cadeias e apanhe a flor viva”. Karl Marx.

Reflexão retirada do portifólio de: Natália Colen

Um comentário:

  1. Olá pessoal, estou gostando muito das postagens e percebendo que existem alguns pontos que são comuns. É legal de mais perceber que não estamos sozinhos no mundo, que existem outras pessoas que acreditam na transformação que será construída com a ajuda de todos!

    Porém, sinto falta da referência, como alguns grupos já fizeram, qual o portfólio de origem...

    Então é isso.

    Abraços, Fernanda Jardim - Grupo ApropriAção.

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