domingo, 10 de abril de 2011

GRUPO PSIPENSANTE

Parte do portfólio da aluna Cleide Oliveira.

 

“Pessoal, acredito que durante o nosso curso passamos por vários momentos de angústia, portanto quero compartilhar o resumo do livro que li. “A Erva do Diabo” de Carlos Castanheda (Editora Nova Era) Que poderá nos ajudar a uma reflexão sobre nosso processo de formação. Para adquirirmos conhecimento temos que vencer muitas barreiras, mesmo assim não podemos dar por encerrado, temos que buscar sempre. Sinto que não se trata de etapas lineares e sim circulares quando vencemos um inimigo deparamos com outro. Dominar o medo é difícil, mas factível, quanto aos demais é muito difícil. O homem nunca tornará o detentor do conhecimento, deve estar sempre aberto para aprender mais e mais...”


... Inimigos do homem de conhecimento ...


- Quando um homem começa a aprender, ele nunca sabe muito claramente quais seus objetivos. Seu propósito é falho; sua intenção, vaga. Espera recompensas que nunca se materializarão, pois não conhece nada das dificuldades da aprendizagem.


“Devagar, ele começa a aprender... a princípio, pouco a pouco, e depois em porções grandes. E logo seus pensamentos entram em choque. O que aprende nunca é o que ele imaginava, de modo que começa a ter medo. “E assim ele se depara com o primeiro de seus inimigos naturais: o Medo! Um inimigo terrível, traiçoeiro, e difícil de vencer. Permanece oculto em todas as voltas do caminho, rondando, à espreita. E se o homem, apavorado com sua presença, foge, seu inimigo terá posto um fim à sua busca.


- O que acontece com o homem se ele fugir com medo?


- Nada lhe acontece, a não ser que nunca aprenderá. Nunca se tornará um homem de conhecimento. Talvez se torne um tirano, ou um pobre homem apavorado e inofensivo; de qualquer forma, será um homem vencido. Seu primeiro inimigo terá posto um fim a seus desejos.


- E o que pode ele fazer para vencer o medo?


- Não deve fugir. Deve desafiar o medo, e, a despeito dele, deve dar o passo seguinte na aprendizagem, e o seguinte, e o seguinte. Deve ter medo, plenamente, e, no entanto não deve parar. É esta a regra! E o momento chegará em que seu primeiro inimigo recua. O homem começa a se sentir seguro de si.


- Isso acontece de uma vez, Dom Juan, ou aos poucos?


- Acontece aos poucos e, no entanto o medo é vencido de repente e depressa.


- Mas o homem não terá medo outra vez, se lhe acontecer alguma coisa nova?


- Não. Uma vez que o homem venceu o medo, fica livre dele o resto da vida, porque, em vez do medo, ele adquiriu a clareza... uma clareza de espírito que apaga o medo. Então, o homem já conhece seus desejos; sabe como satisfazê-los. Pode antecipar os novos passos na aprendizagem e uma clareza viva cerca tudo. O homem sente que nada lhe oculta.


“E assim ele encontra seu segundo inimigo: a Clareza! Essa clareza de espírito, que é tão difícil de obter, elimina o medo, mas também cega.”


“Obriga o homem a nunca duvidar de si. Dá-lhe a segurança de que ele pode fazer o que bem entender, pois ele vê tudo claramente. E ele é corajoso porque é claro e não para diante de nada porque é claro. Mas tudo isso é um engano; é como uma coisa incompleta.


- O que acontece com um homem que é derrotado assim, Dom Juan? Ele morre por isso?


- Não, não morre. Seu inimigo acaba de impedi-lo de se tornar um homem de conhecimento. No entanto, a clareza, pela qual ele pagou tão claro, nunca mais se transformará de novo em trevas ou medo. Será claro enquanto viver, mas não aprenderá nem desejará nada.


- Mas o que tem de fazer para não ser vencido?


- Tem de fazer o que fez com o medo: tem de desafiar sua clareza e usá-la só para ver, e esperar com paciência e medir com cuidado antes de dar novos passos; deve pensar, acima de tudo, que sua clareza é quase um erro. E virá um momento em que ele compreenderá que sua clareza era apenas um ponto diante de sua vista. E assim ele terá vencido seu segundo inimigo, e estará numa posição em que nada mais poderá prejudicá-lo. Isso não será um engano. Não será um ponto diante da vista. Será o verdadeiro poder.


“Ele saberá a essa altura que o poder que vem buscando há tanto tempo é seu, por fim. Pode fazer o que quiser com ele. Seu aliado está às suas ordens. Seu desejo é a ordem. Vê tudo o que está em volta. Mas também encontrou seu terceiro inimigo: o Poder!”


“O poder é o mais forte de todos os inimigos. E naturalmente a coisa mais fácil é ceder; afinal de contas, o homem é realmente invencível. “Um homem nesse estágio quase nem nota seu terceiro inimigo se aproximando.


- E ele perderá o poder?

- Não, ele nunca perderá sua clareza nem seu poder.


- Então o que o distinguirá de um homem de conhecimento?


- Um homem que é derrotado pelo poder morre sem realmente saber manejá-lo. O poder é apenas uma carga em seu destino. Um homem desses não tem domínio sobre si, e não sabe quando ou como usar seu poder.


- A derrota por algum desses inimigos é uma derrota final?


- Claro que é final. Uma vez que esses inimigos dominem o homem, não há nada que ele possa fazer.


- Será possível, por exemplo, que o homem derrotado pelo poder veja seu erro e se emende?


- Não. Uma vez que o homem cede, está liquidado.


- Mas, e se ele estiver temporariamente cego pelo poder, e depois o recusar?


- Isso significa que a batalha continua. Isso significa que ele ainda está tentando ser um homem de conhecimento. O indivíduo é derrotado quando não tenta mais e se abandona.


- E como o homem pode vencer seu terceiro inimigo, Dom Juan?


- Também tem de desafiá-lo, propositadamente. Tem de vir a compreender que o poder que parece ter adquirido, na verdade nunca é seu. Deve controlar-se em todas as ocasiões, tratando com cuidado e lealdade tudo o que aprendeu. Se conseguir ver que a clareza e o poder, sem seu controle sobre si, são piores do que os erros, ele chegará a um ponto em que tudo está controlado. Então, saberá quando e como usar seu poder. E assim terá derrotado seu terceiro inimigo.


“O homem estará, então, no fim de sua jornada do saber, e quase sem perceber encontrará seu último inimigo: a Velhice! Este inimigo é o mais cruel de todos, o único que ele não conseguirá derrotar completamente, mas apenas afastar.”


“É o momento em que o homem não tem mais receios, não tem mais impaciências de clareza de espírito... um momento em que todo seu poder está controlado, mas também o momento em que ele sente um desejo irresistível de descansar. Se ele ceder completamente a seu desejo de se deitar e esquecer, se ele se afundar na fadiga, terá perdido o último round, e seu inimigo o reduzirá a uma criatura velha e débil. Seu desejo de se retirar dominará toda sua clareza, seu poder e sabedoria.”


“Mas se o homem sacode sua fadiga, e vive seu destino completamente, então poderá ser chamado de um homem de conhecimento, nem que seja no breve momento em que ele consegue lutar contra o seu último inimigo invencível. Esse momento de clareza, poder e conhecimento são o suficiente.”

Um comentário:

  1. "Quando um homem começa a aprender, ele nunca sabe muito claramente quais seus objetivos. Seu propósito é falho; sua intenção, vaga."
    Penso que essa é uma realidade de muitos colegas do curso, que ainda não definiu claramente o que quer fazer quando terminar a graduação em psicologia. Acreditem, vivo esse dilema! Oh! Dúvida cruel!
    Nossa colega Cleide foi feliz na escolha desse texto, pois acredito que ela expressa a realidade que muitos de nós enfrentamos todos os dias:vencer nossos medos, clarezas e saber lidar com o poder que nos é dado, até sem querermos.
    Entender que, o nosso saber e o que estamos aprendendo é só uma parte de tudo o que realmente existe enquanto conhecimento, além de angustiante, isso é maravilhoso. Não nos é possível saber todas as coisas! Pensemos na vastidão do conhecimento! Isso, por um lado, é um alívio, pois sei que não terei o poder de saber tudo, o que me faz ser mais tranqüila e humilde diante do conhecimento do outro. Isso me faz ter o gosto de aprender, de ouvir o outro que sempre pode me ensinar algo, basta estar aberto ao aprendizado. Que bom que é assim que as coisas são. Se fosse o contrário, talvez isso tudo seria uma chatice.
    Tatiana Parreira – grupo: Arquivo Ψ - “O conhecimento também está lá fora”

    ResponderExcluir