Pessoal!
O texto descreve como foi a experiência de conhecer o Museu da Loucura. Espero que gostem!!!!
Visita ao Museu da Loucura em Barbacena
Em visita ao hospital psiquiátrico de Barbacena (CHPB) foi a primeira vez que tive contato da prática e como eram tratados os portadores de sofrimento mental antes da Reforma Psiquiátrica, vou descrever um pouco como foi esta experiência, que foi de grande importância para minha formação. Conversei com uma psicóloga, que me acompanhou e me mostrou o antigo hospital Colônia de Barbacena. Visitei o museu da loucura, um espaço pequeno de dois andares, com fotos, objetos, equipamentos e documentos que contam a história da colônia.
Hoje (CHPB) possui duas unidades na cidade, sendo dividido entre unidade A e unidade B, com cerca de 300 pacientes internados, após a reforma psiquiátrica, não foi possível resgatar nenhum laço familiar de alguns pacientes.
Hoje com as mudanças nos métodos de tratamento das doenças da saúde mental, no hospital foram criados 05 “Casas de Referencia”, visando criar um processo de socialização e integração, 03 somente para homens, 01 para mulheres e outra dedicada a pacientes debilitados fisicamente. As mesmas possuem toda uma estrutura básica, mas devido ao fato da convivência em longos anos nos pavilhões, eles não conseguiram adquirir uma vida independente e responsável, com isto foi montada uma infra-estrutura para a limpeza e fornecimento de alimentos. A comida é feita na unidade A, e transportada todos os dias para a unidade B. Um dos pavilhões já foi transformado em hospital geral para a cidade e outro para tratamento de pacientes crônicos.
Alguns pacientes que ficaram internados por muito tempo dentro do hospital-Colônia, hoje residem em residências próprias. A psicóloga conta que o hospital mostrou os benefícios de se criar uma casa terapêutica ao Secretário de Saúde, a argumentação do hospital foi feita dentro do conselho de saúde, no qual fizeram uma planilha dizendo que o hospital de Barbacena no ano de 2000, havia um gasto de um milhão por mês, só em saúde mental. Na realidade esse gasto pagava somente os hospitais psiquiátricos. A negociação foi feita ao secretário de saúde. E fizeram um pedido que fossem construídas residências terapêuticas na cidade. Mostraram ao secretário o lucro que o Estado iria ter, e os benefícios para os pacientes, com uma qualidade de vida melhor. Em vez de esses pacientes morarem em um pavilhão com 30, 40 pessoas, eles morariam em uma residência com até cinco pessoas. A psicóloga informou que o objetivo da residência terapêutica é reparar o erro que o Estado cometeu, e dar de fato outra oportunidade para essas pessoas. Nesta residência encontram-se pessoas que perderam o elo com sua família, que não têm onde ficar e que também não necessitam dos serviços como Cersam e medicamentos, e que não precisam ser mantidas dentro do hospital. Então se constrói uma residência terapêutica, onde morará até cinco pessoas, como se fosse uma república.
Algo que me chamou bastante atenção foi o uso do cigarro constantemente, visitei o pavilhão onde se encontravam somente os homens, e percebi que os dedos de suas mãos são bastante amarelados, devido ao uso do cigarro. Segundo a psicóloga o fumo e fornecido pelo estado. Os pacientes fazem o uso do cigarro, pelo fato de terem poucas distrações. Seria uma forma de eles passarem o tempo.
Durante a minha visita várias histórias me foram relatadas. Foi relatado um caso de uma senhora com o nome de Maria, que quando tinha 10 anos perdeu seus pais e foi deixada por freiras na colônia, permanecendo lá por 52 anos. Esquecida pela sociedade, mas como não tinha família e ninguém para preocupar com ela, permaneceu ali por meio século. Hoje ela vive em uma casa de “residência terapêutica” com uma vida normal e sociável. Outra história que me chamou a atenção foi de uma senhora que refugiada da segunda guerra mundial, sem saber falar português, perdida no país foi deixada na colônia, onde viveu por mais de 50 anos, após a mudança na legislação e trabalho da assistente social, sua família foi encontrada e hoje ela ensina os netos a falar japonês, tendo uma vida social normal.
Percebi que hoje o hospital-Colônia de Barbacena mudou muito. Os pacientes hoje são tratados como seres humanos de verdade, onde encontrei todos limpos e com roupas, tendo um quarto para dormirem, guarda-roupa, uma sala de televisão, refeitório e banheiros. Não percebi nenhum descaso da parte do hospital. “Para mim loucura é sofrimento é angustia. E como tal, eu os combato. Não para devolver a saúde. Mas sim, para defender a vida”. (Citação fixada no quadro do Museu da Loucura em Barbacena-MG, escrita por Franco Basaglia (1924-1980), líder mundial da luta antimanicomial).
Parte do Portfólio de Giselle M. Cazita.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir"Para mim loucura é sofrimento, é angustia. E como tal, eu os combato".
ResponderExcluirImportante fixarmos isso na memória, de preferência a de longo prazo, para não darmos espaço ao estigma acerca da loucura, que, ainda prevalece em nossa sociedade e que exclui, desrespeita, maltrata e vira o rosto
para sujeitos que na verdade, precisam de sorrisos,de palavras, gestos e/ou olhares empáticos.
Que possamos compreender o lugar que o sofrimento ocupa na vida desses sujeitos tratados pejorativamente como loucos, mas que, na verdade, podem nos ensinar mais do que realmente imaginamos, principalmente no que diz respeito à lidar com as diferenças...
Até mais,
Tatiana Parreira
Grupo> Arquivo Ψ