A formação em saúde mental: desafios e vivências de uma prática em construção
O assunto foi apresentado em uma mesa redonda, na qual os estagiários da saúde mental de Santa Luzia relataram sobre seus trabalhos nos diferentes espaços existentes neste serviço, que seriam o CAPSi (Centro de Atendimento Psicossocial Infanto-Juvenil), CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial Adulto), RT (Residência Terapêutica) e o Matriciamento.
Sobre o CAPSi, Franciele Nunes, estagiária de psicologia e Karine Assunção, psicóloga, falaram da importância da família frente ao trabalho das crianças e adolescentes usuárias do sistema. O primeiro ponto importante dessa presença indispensável da família seria a questão da menor idade, o que já impõe legalmente a relação dos pais ou responsáveis com o tratamento de seus filhos. Outro fator importante é que a família entenda a doença e dessa forma saiba lidar com a mesma em todos seus momentos. Não é apenas pegar o usuário em seu momento de crise e levá-lo ao atendimento, mas também conviver com ele em seus momentos estáveis, o que seria extremamente enriquecedor para o tratamento e para a ressocialização dessa criança ou adolescente.
Em relação ao CAPS a estagiária de psicologia Liam Kelly falou sobre o desafio de se trabalhar em uma instituição burocrática e ao mesmo tempo fazer com que essa burocracia não seja tão excessiva, a ponto de engessar ou por em risco a qualidade do tratamento do usuário. Um exemplo usado por ela foi a grande demanda de usuários no serviço, o que as vezes por falta de profissionais ou estrutura acarretava no ócio dos pacientes no seu período de permanência no CAPS. Essa situação é muito ruim, já que as vezes esse ócio pode esconder questões extremamente esclarecedoras e positivas do paciente em relação ao seu tratamento.
O Matriciamento foi discutido pela psicóloga Angélica Pereira, em que ela relatou que ele é um processo do NASF (Núcleo de Apoio à Família), que teve início em 2006 e que tem como objetivo diminuir a demanda do CAPS, oferecendo apoio aos PSFs. O Matriciamento é uma prática de prevenção e promoção à saúde, ele age ajudando a mapear a comunidade no que diz respeito à suas demandas e suas respectivas especialidades, ou seja, ele está integrado à atenção primária e secundária à família.
O serviço de residência terapêutica foi apresentado pelos estagiários de psicologia Célio Carlos e Patrícia Chaves. Eles falaram a respeito das dificuldades de trabalho de uma residência terapêutica que atenda de fato os requisitos da reforma psiquiátrica. Os usuários desses serviços são em sua maioria egressos de hospitais psiquiátricos, que tiveram muitas vezes seus direitos violados e alguns que foram abandonados até por sua própria família. Foi discutido que a melhor forma de intervenção com esses moradores seria em um contexto de desinstitucionalização da loucura, com a integração de dispositivos psicossociais de reabilitação, ou seja, trazer autonomia a esses indivíduos.
O que chamou a atenção em especial nessa mesa redonda, foi a forma como esses estagiários falaram sobre seus serviços dentro desse sistema. Eles falaram com tanta propriedade que eu não conseguia vê-los como estagiários, mas sim como profissionais muito bem capacitados e realmente “contaminados” pelo serviço. Em todo momento ficou claro o movimento anti-manicomial dentro da estrutura de trabalho apresentada por eles. Em alguns momentos eu consegui sentir a sede de melhor qualidade de vida, de ressocialização e de cidadania plena que esses estagiários sentem para com os portadores de transtorno mental e suas famílias, e isso sem dúvida não marcou só a minha formação como profissional, mas também minha formação pessoal.
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