ENTREVISTA: ASSOCIAÇÃO MINEIRA DE REABILITAÇÃO (AMR)
Criada inicialmente para atender crianças com paralisia infantil, atualmente atende cerca de 440 crianças portadoras de anormalidades congênitas, paralisia cerebral, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, má formações, síndromes, microcefalia, retardo mental, mielomeningocele, paralisia braquial, obstétrica e traumatizados de alta energia, através do Serviço Integrado de Reabilitação (SIR) onde são oferecidas as especializadas de Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Psicologia, Serviço Social, Neurologia, Ortopedia e Odontologia. O tratamento tem ainda o suporte da Oficina Ortopédica através dos serviços de Órteses e equipamentos terapêuticos que confecciona e fornece gratuitamente toda a tecnologia assistiva necessária às crianças em processo de reabilitação.
A missão da AMR é prestar serviços de assistência à saúde, principalmente na área de reabilitação, promovendo a inclusão social da criança carente portadora de deficiência física, através de um trabalho qualificado e inovador.
A AMR ultimamente tem atendido um público infantil, de até doze anos de idade, com raras exceções devido a pouca procura de adolescentes.
ENTREVISTA COM A DOUTORA ISABELA - PSICÓLOGA
A psicóloga Isabela, uma das psicólogas atuantes da AMR, nos cedeu um tempo de uma hora para uma entrevista, a qual resolvemos fazer semi estruturada para dar maior liberdade a ela de expor os pontos que a própria achava mais relevante e ao mesmo tempo estabelecemos tópicos para em alguns momentos fazer-lhe perguntas sobre aquilo que ela ainda não havia citado.
Fora relatado que o atendimento psicológico na AMR é realizado, assim como para as crianças com deficiências psicomotoras, também para alguns familiares, principalmente mãe dessas crianças para que aceitem ou se adaptem com tal situação. Algumas mães tiveram uma gravidez normal e durante o nascimento do bebê, como, por exemplo, o uso do fórceps, causa algum tipo de deficiência na criança, assim se torna mais doloroso para a mãe, assim como crianças psicofisiológicamente normais que sofrem acidentes e se tornam tão dependentes dessas mães, que antes tinham os seus filhos sem qualquer tipo de alterações psicomotoras. É muito difícil para as mães aceitar e também é muito difícil para essas crianças lidarem com tal diferença perante as outras. O período de transição da infância para a pré-adolescência, é relatado pela psicóloga como um período muito delicado para essas crianças, uma vez que muitas delas se deparam com outros adolescentes normais, tomam consciência muitas vezes de que não poderão andar, ou mesmo ter filhos, a psicóloga entra nesse caso tentando dar um suporte a esta criança, mostrando que ela é capaz de muitas outras coisas e ajudando o paciente a conviver com suas limitações.
Uma de nossos questionamentos, fora quanto a sua atuação com crianças que não se comunicavam verbalmente. O método utilizado por Isabela, muitas vezes são brinquedos, ela tem uma estante enorme com vários brinquedos, então ela pede que a criança escolha o que quer, e observa a criança brincando, ou então ela usa também de pedir as crianças que desenhem e observa os desenhos. Muitas crianças chegam e não querem ficar no consultório, às vezes num primeiro momento pra que a criança fique, é necessário que a mãe permaneça ali junto, e a psicóloga vai aos poucos conquistando a confiança da criança. Algumas segundo Isabela, até entram no consultório, sozinhas, mas se recusam a falar nas primeiras consultas, e aos poucos vão se soltando, a ponto de algumas sofrerem ao chegar ao fim de um tratamento psicológico.
Na Instituição há muito poucos psicólogos para a grande demanda de crianças, então atuam muitos estagiários para tentar suprir essa carência, contando com o embasamento e auxílio dos psicólogos da instituição. Mas também há estagiários de algumas outras áreas. Na Instituição há os consultórios psicológicos, há uma sala de espera para os pais, com televisão, há também uma sala para o atendimento dos terapeutas ocupacionais, há os consultórios de fonoaudiólogos, há os consultórios médicos e há um enorme ambiente onde atuam os fisioterapeutas.
Uma dos problemas que detectamos na entrevista é a forma da AMR classificar as deficiências psicomotoras, notamos que a prioridade é dada a deficiência física, e o fisioterapeuta encaminha o paciente para o psicólogo se ele detectar que o paciente precisa de atendimento psicológico, não há atendimento psicológico suficiente para todos os pacientes, e a Instituição não presa por isso, há muito pouco profissional de psicologia na instituição.
Pacientes com prioridades psicológicos são encaminhados pra outros locais, não são atendidos na AMR, repetindo as palavras da doutora Isabela; “são praticamente recusados.” Outra reclamação da psicóloga e causa de atrito entre psicólogos e fisioterapeutas na AMR, é a forma de alguns fisioterapeutas tratarem os pacientes. As vezes aproximam-se estagiários, eles nem se preocupam em apresentar o paciente, tratam no como objeto, referindo-se ao mesmo pela patologia e não pelo nome, e as vezes ainda, ao realizar algum movimento com o paciente, não fala ao mesmo o que tem que fazer, ao mesmo tempo em que conversa com outras pessoas, vira, por exemplo, a cabeça do paciente para o lado, forçando e não fala nada com o paciente, não dialoga, não explica o procedimento que está sendo realizado, desconsiderando o paciente como um ser humano, principalmente a sua carência de atenção e fragilidade. E a criança sofre muito com essa desconsideração, ela precisa ser vista, ser notada e tratada como um ser humano, tal qual é. Pela pouca importância dada ao fator psicológico na AMR outra falha que notamos, é a ausência de psiquiatras, mas isso já é conseqüência da maior visibilidade motora.
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