sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Grupo ΨPsiConversas

(O texto é longo, mas a história vale a pena! rsrs)

“... Porque se chamava homem,
 também se chamavam sonhos,
 e sonhos não envelhecem...”

É com estes versos da música Clube da Esquina II, escrita por Milton Nascimento, Lô e Marcio Borges, que me proponho a fazer as reflexões iniciais sobre a minha trajetória acadêmica. O verdadeiro contexto da música escrita nos tempos de ditadura militar no Brasil expressa a manifestação velada da juventude daquela época e seus anseios por liberdade.
Mas para refletir sobre meus passos até aqui, tomo emprestado os versos dos moços das Minas Gerais, para descrever um sonho e um longo caminho para a sua realização, que em muito se assemelha ao caminho que conduz à liberdade.
Não sei nem dizer bem quando aconteceu a escolha pela psicologia. Sei que, recorrendo à velha e boa memória, consegui resgatar fatos desde a minha infância, que acredito terem me conduzido a este caminho antes mesmo que me apropriasse disso. Lembro-me que na saudosa infância era sempre a mediadora dos conflitos que surgiam nos grupos de coleguinhas, buscava sempre uma forma de ouvir as partes e tentar mediar às pequenas brigas que surgiam, e que mesmo sem a necessidade de alguma intervenção, cessavam algumas horas depois.
O fato, é que ao longo da infância e adolescência mantive esse mesmo tipo de comportamento e crescia em mim um desejo de desenvolver isso, sem nem mesmo saber o que era a psicologia e nem cogitar esse nome até então. Claro que este, não foi o ponto principal para a minha escolha, se fosse mesmo só mediar conflitos, talvez hoje estivesse no Direito.
Mas existem outras coisas...
Fui descobrindo ao longo das minhas relações, em família, na escola, com amigos de uma vida toda, que era apaixonada por pessoas e suas histórias.  Às vezes passava horas com alguém, em passeios, encontros e até mesmo em festas, ouvindo atentamente a histórias de vida, angústias, lamentações, tentando ajudar de alguma forma e dando minhas opiniões e conselhos que julgava serem o que a pessoa precisava naquele momento. 
Acho que a definição pela psicologia surgiu aí, na concepção do senso comum mesmo, de que psicologia era isso, escuta de um problema e um conselho mágico para resolver todas as situações...
Mal sabia eu, onde estes caminhos me levariam.
Mas, o que tudo isso tem a ver com o trecho da música sobre os sonhos não envelhecerem?
Bem, retomemos o caso.
Concluí o meu ensino médio em 2000 e confesso que com muita dificuldade.
Nunca fui exemplo de aluna e de notas boas, sempre me distraía e perdia o interesse facilmente pelas coisas, tive algumas repetências do ensino fundamental ao médio, além de aprontar muito pelos colégios que passei. Mas gostava de desafios. Quando “provocada”, promovia debates interessantes sobre determinados temas e superava os melhores alunos em trabalhos e provas. (Hiperatividade? Talvez. Mas naquela época nem se falava nisso.)
O fato é que nunca fui muito incentivada por minha família e confesso que algumas vezes quando tocava no assunto, cheguei a ser desacreditada.
Até compreendo, analisando que o ensino superior era bem menos acessível que hoje, e era destinado àquelas pessoas que gostavam muito de estudar, o que não era meu caso.
Além disso, existia também a dificuldade financeira citada por muitos em seus portfólios. E comigo não era diferente, sem possibilidade nenhuma de conseguir pagar um curso, o jeito era tentar alternativas para realizar meu sonho, e confesso aqui, um desejo de provar a muitos de que era capaz.
Tomei essa decisão em 2002, e a partir daí, começava uma luta pessoal, estudando em casa, sozinha. Foram três tentativas no vestibular da Federal, três provas do Enem, para conseguir enfim adentrar a faculdade. 
Sobre este período de busca, preciso citar aqui três pessoas, três irmãos, que me instigavam a buscar, a não desistir, e alimentavam meus sonhos com seus exemplos de vida e determinação.  
A primeira, Malú. Formada em pedagogia, me falava sempre da busca, me incentivava e dizia que eu tinha cara de quem cuidava das pessoas, que deveria fazer um curso nesta área.
Marilane, formada em psicologia, começou seu curso neste período da minha busca, sabia que eu tinha a mesma vontade, e quando ia visitá-los, me enchia os olhos com obras de Freud, textos, dicionários de psicologia e fazia aumentar ainda mais a minha vontade.
Etiene formou-se em Jornalismo. Também ele, começou o curso no período da minha busca, e de certa forma, foi dos três, o que mais me provocou inquietação.
Lembro-me que no início de seu curso, o encontrei certo dia na fila do ônibus, neste dia, me dizendo estar satisfeito com o que fazia, apesar de cansado, me perguntou sobre o que eu estava fazendo.
Ao ouvir minha resposta, de que estava tentando, me olhou bem no fundo dos olhos e disse: “Você está deixando o tempo passar!”
Tenho que dizer que isto me causou uma inquietação, e decidi então me dedicar mais.
Sou eternamente grata aos três pela presença em minha vida.
Para minha alegria, um ano depois desta inquietação estava eu, no primeiro período de psicologia da PUC São Gabriel.
Ao entrar na sala me deparei com uma turma jovem, de faixa etária entre 17 e 23 anos, e entre eles, eu, no auge dos meus 29 anos. Acho que era uma das mais velhas da turma, e como um filme, revi toda minha trajetória ali, naquele primeiro dia de aula.  Tentava resgatar o que tinha feito entre os meus 17 e 23 anos, e não senti culpa, pois mesmo não estando na faculdade, nesta fase, tive outras formas de crescimento pessoal e intelectual, mas lembrei-me das palavras de meu amigo Etiene e percebi quanto tempo eu tinha deixado passar. 

Mas apesar de tudo, existia um sonho, o meu sonho!
E como os sonhos não envelhecem, o jeito foi adaptar-me, esforçar e resgatar o tempo perdido.
Hoje posso dizer que tudo aconteceu no tempo certo. A maturidade me permite ter outra visão, sobre a vida, sobre as pessoas e sobre a minha formação.
Mas essa é uma história para ser contada em outra página do meu portfólio de muitas histórias, pessoas e canções...

Um abraço a todos. 


Clique aqui para letra e música,na interpretação de Flávio Venturini


Texto extraído Portifólio de Daniela Santos

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