Mesa apresentada no Bloco C, sala 110 às 20h50min às 22h30min – 20/09/2011:
Foram mostradas quatro temáticas sobre a Reforma Psiquiátrica. A primeira fala de um projeto de extensão (Tecendo Redes) no CAPS na região de Santa Luzia. A segunda apresentação fala das residências terapêuticas e seus objetivos e propósitos dentro da Reforma. A Terceira apresentação mostra um pouco da história e formação do profissional de psicologia nas Unidades Básicas de Saúde. E por ultimo uma apresentação a história da Reforma Psiquiátrica em um dos Hospitais mais importantes de Belo Horizonte em psiquiatria – Instituto Raul Soares.
1. CAPS – Santa Luzia.
Projeto de extensão da universidade elaborada em 2008 e com prática desde 2010. O Projeto Tecendo Redes é uma articulação universidade, serviço e comunidade, envolvendo estágios curriculares, assistência direta aos usuários, prática de desistintucionalização e prática interdisciplinar.
O projeto tem como objetiva melhoria na formação dos estudantes, desenvolvimento de estratégias para lidar com paradigmas da reforma psiquiátrica e modificar a prática em saúde mental através da atuação dos estagiários. Entre algumas práticas estão o acolhimento, a permanência na instituição, visitas domiciliares, reuniões de equipes, discussão de caso, construção dos casos, revisão dos prontuários.
O questionamento levantado através do projeto recai sobre questões de moradia, família, convivência, circulação na comunidade, capacidade civil e imputabilidade penal.
O CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) surge a partir dos anos 90 com uma perspectiva de inclusão social. Recebe pacientes graves em crise e tem funcionamento independente de hospital com acolhimento, ambulatório, permanência-dia, permanência-noite, oficinas terapêuticas, articulação de atendimento em rede. Proporciona a formação e a prática em rede, um processo de aprendizado e processo de socialização e uma reflexão em saúde mental.
2. Residência Terapêutica
A residência terapêutica tem sua formação a partir de ordem judicial após denuncias de que o portador de deficiência mental convivia em asilos com idosos não portadores, o que dificultava o acesso e tratamento.
De acordo com a palestrante, a Reforma é algo que ainda está em curso, ou seja, não está finalizada. Para ela é necessário formar e reformar todos os dias, pois a cultura em que vivemos ainda apresenta visões preconceituosas acerca da doença mental. É um processo constante de desistintucionalização.
A Residência Terapêutica se apresenta como uma postaria Ministerial, porém não é uma instituição de internato, nem um serviço e está estrategicamente localizada em espaços urbanos. Tem características de funcionamento como uma casa comum e por isso são também chamadas de moradias. Os moradores, egressos de longa internação, fazem uso dessas residências como forma de restabelecer os laços sociais, já fora da crise.
As moradias tem funcionamento residencial como outra qualquer e possibilita reinserção na comunidade, autonomia para atividades domésticas e pessoais , exercício da cidadania e reabilitação psicossocial de acordo com a singularidade e a coletividade dos moradores. O trabalho é feito através de equipe interdisciplinar que em conjunto com os moradores constrói possibilidades para que os moradores possam voltar à convivência social comunitária e familiar.
Os maiores desafios são a superação de heranças culturais de exclusão e reinserção dos moradores no convívio social.
3. Inserção e formação do Psicólogo na Unidade Básica de Saúde
A inserção do psicólogo nas Unidades Básicas de Saúde tem plena relação com a reforma psiquiátrica, o campo de saúde mental e a Atenção Primária à saúde.
No final da década de 70, surgem questionamentos dos modelos hospitalocêntricos ofertados por serviços privados. Criticas ao modelo asilar, comunidade terapêutica e psiquiatria institucional.
Surgimento da Psiquiatria preventiva tendo a comunidade como local de atuação. A crise da atuação clinica na década de 80 e as conferencias de saúde, requer da formação do psicólogo, atenção as necessidades da comunidade.
Em 1998, com a aprovação do SUS (Sistema Único de Saúde), surgem novas demandas de responsabilidade social e atuações a partir de uma reflexão do diferente contexto trazido pelo SUS.
A Atenção primária se dá no próprio campo de trabalho, se atentando em não transpor o modelo da clinica privada e elitizada na prática da realidade do SUS entendendo cada caso dentro do contexto que o sujeito está inserido.
4. A Reforma e os hospitais Psiquiátricos
Como acontecem as mudanças na dinâmica estrutural do Hospital a partir da Reforma Psiquiatra? Em que medida o Hospital reagiu e participou da Reforma? Estes são alguns dos questionamentos levantados na relação Hospital como modelo prisional de contenção a doentes mentais e a Reforma Psiquiátrica.
O palestrante traz uma pesquisa realizada no em um dos hospitais psiquiátricos mais importantes da região de Belo Horizonte em Minas Gerais, o Instituto Raul Soares, comparando o modelo proposto enquanto centro da reforma psiquiátrica em Minas e o que realmente acontece enquanto prática institucional.
O palestrante conta que inicialmente, a proposta do hospital era ser um espaço de recreação e de exercícios físicos e de oficinas com geração de renda para o próprio interno. Proposta que foi se desvinculando ao passar das décadas.
Em 1927, com o primeiro diretor, o hospital passou a ter caráter prisional e de contenção, com medicamentos e eletro choques. Após denúncias de maus tratos e com a expulsão do diretor, em 1929 sobre nova direção, o hospital dá seus primeiros passos na tentativa de humanização dos internos com iniciativas reformistas sintonizadas com o higienismo e a psicanálise. No final da década de 70 surge o documentário “Nos porões da loucura”. Outros documentários foram surgindo ao longo do tempo e a sociedade foi ficando incomodada com a tentativa deixar o louco em uma convivência social. As práticas reformistas do então diretor passaram a não serem mais aceitas provocando a sua expulsão do hospital.
Hoje, nessa prática reforma e hospital, o Raul Soares, conta com algumas práticas que apresenta não o internato permanente, mas a circulação do paciente fora hospital. Algumas dessas práticas são o Ambulatório Central Roberto Resende, que se atenta a não segregação do paciente do seu meio familiar e a viabilização de um trabalho multidisciplinar; a Residência Psiquiátrica, com o trabalho de psiquiatria social e psicanálise, atendimento nas enfermarias, plantões; o Projeto Guimarães Rosa, que visa equipes interdisciplinares e ampliação do atendimento ambulatorial, substituição do modelo segregador por um modelo abrangente e preventivo, visando recuperação e ressociabilização do paciente e criação de equipes terapêuticas. Hospital-dia com serviço multidisciplinar com a plena circulação do espaço físico e simbólico e a responsabilização familiar no auxilio ao tratamento do paciente.